quinta-feira, 4 de junho de 2009

Esta noite

Esta noite
E de certo nada tinha. Apenas um passo a frente e tudo lhe parecia suportável. Os letreiros eram convidativos e suas percepções o enganavam, já não sabia se de partida ou volta, mas se punha a caminhar. Pés descalços, corpo trêmulo, mais uma noite sem rumo. De companhia dispunha de sua própria sorte, ou a falta dela. Na verdade apenas sobrevivia, enquanto sonhava com ela. Sentia o cansaço domar sua mente, mas persistia noite a fora. Em suas andanças deslumbrava- se com cada nova esquina. Reverenciava o luar, que de beleza o alimentava a alma. Soava feito uma canção poetizada o vento que lhe tocava a pele enquanto Beto rendia-se aos pensamentos mais sórdidos que guardava em silêncio.
Entretanto, vivenciar a insanidade não lhe pareia anormal. Anormal era o corpo que passa fome, o santo que se vende e a certeza absoluta. Beto simplesmente vivia o encanto dos deslumbramentos da paixão, a qual de forma avassaladora devastou toda vida restante em si. De memória guardava sorrisos plenos, o toque, o lábio, o corpo, o cheiro toda a essência dela. O mundo, o tudo se tornou canções perdidas, melodias desfeitas, laços partidos e uma dor sombria e sórdida que lhe amargava toda alma, todo o pensamento, mas não conseguia desfazer-se dela e junto livrar-se desta prisão sentimental.
Uma luz o fez parar. Seus sentidos embriagavam-lhe a pouca razão que continha. O sorriso! Começava a sentir os leves pingos de chuva sobre teu corpo, contudo precisava, almejava vê-la mais uma vez. Se houvesse um único momento na vida do qual pudesse destruir todas as certezas, o faria nesse momento. Seria unicamente o não saber dentre a verdade que o mantinha ali. Ela parada na janela, sorrindo ao telefone. Beto recordou que um dia foi à razão deste tão pleno momento e riu da própria ironia da vida. Seus conflitos estavam todos diante de si, teria de escolher partir ou ficar. A vida não fornecia opções variáveis, eram apenas suas escolhas.

Parte 1.

Um comentário:

  1. Quanta intensidade, cheguei a sentir falta de ar com tanta emoção.
    Por favor não mata o Beto.

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Um trecho a mais.