sexta-feira, 5 de junho de 2009

Intensidade

Parte 2.

A rua estava deserta. Por um instante Beto almejou não sentir tanta dor. Ela que a pouco sorria, agora era possuidora de uma palidez. Seus olhos não acreditavam. Largando imediatamente o telefone. Olívia desapareceu, deixando uma escuridão no lugar. Beto lidava com seu pior tormento e sem forças para suportar, sentou-se na calçada admirando agora a escuridão que vinha da janela. Desejou que soubesse rezar, talvez aqueles que soubessem ao menos teria um conforto, buscariam num pedido o alicerce para permanecer, mas ele não acreditava.
De memória carregava o peso do mundo, o conflito e sem suportar o silêncio encostou seu rosto cansado sob seus joelhos, agarrando-se á eles como se disto dependesse o seu respirar. Um ruído soou no silêncio da noite, contudo Beto não se mexeu. A chuva deixara seus delicados pingos e agora domava os ares, intensa e fria persistia em cair.
A escuridão ressaltava os mais temerosos conflitos conservados em alma. Olívia caminhava delicadamente e sutilmente se retirou sem que ninguém fosse capaz de reparar sua ausência. Seu corpo reagiu instantaneamente à forte chuva. Sob uma brisa gélida Olívia encolhia-se, mantendo os braços cruzados na tentativa de espantar o frio. Sua boca movimentava-se, contudo nenhum som saía. Questionando sua sanidade Lívia desejou não tê-lo visto de seu quarto. Consumida pelos mais sórdidos transtornos, disparou a falar histericamente:
-Em algum momento perdido do tempo, enquanto destilava todos os meus sentidos guiados por uma simples canção, deslumbrava sua imagem e criava situações, onde eu apenas saberia como você estava nesta noite. –Olívia deixou escapar um sorriso nervoso que ocultava sua vontade de gritar loucamente. –E como uma brincadeira, enquanto a vida dita suas regras eu simplesmente encontro minha resposta de maneira precária e pouco sã bem diante a mim.
Seus sentidos conturbaram-se fundidos a ansiedade de simplesmente vislumbrar ela diante de si. Aquela voz doce soava feito o acorde perfeito de sua sinfonia. Antes de erguer seu rosto Beto desejou subitamente que não fosse um sonho, alucinação, fascínios de sua própria loucura. Seus olhos guardavam cada minucioso detalhe dela. Num salto levantou-se. Tornou-se o próprio silêncio, era incapaz de dizer algo, então ficou a encarar os olhos castanhos e furiosos que lhe olhavam.
-Nada digno de um “andarilho”, poderia esperar qualquer ato, exceto o que me oferece nesse momento.
-Poderia lhe relatar minhas diversas andanças pelo mundo. Contar-lhe sobre a solidão que perpetuou minha caminhada. Fazer-lhe compreender meus atos e minhas buscas. Poderia vir em minha defesa e dizer que não sou um vilão. –Beto aproximou-se. –Poderia dizer que me realizei em minhas buscas, contudo todas essas palavras sumiram feito o vento, como brisa passageira, portanto domado pelo nada em que me tornei vim resgatar o sentido da minha vida.
-Desejo sorte nessa sua busca. –Olívia sentiu retomar aquela dor adormecida da qual um dia se julgou livre. –Eu apenas precisava que você me olhasse nos olhos e enxergasse o quanto me destruiu quando partiu. Este é nosso último momento, portanto olhe bem fundo, pois preciso saber que não foi em vão.
-Eu preciso de você!
-Sinto muito.

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